terça-feira, 26 de agosto de 2008

Em busca do amor na terceira idade


Ao entrar no simples apartamento, localizado no bairro da Boca do Rio, não pude deixar de observar a quantidade de fotos de revistas espalhadas pelas janelas, com vários modelos bonitos, fortes e atléticos, que servem como parte da decoração da casa de dona Edna Maria de Sousa, 69 anos.
Edna, assim como muitos, está em busca de um amor, nessa nova etapa da vida que é a Terceira Idade. Vaidosa, e com muito senso de humor, ela se define como uma pessoa de auto-estima. “Graças a Deus, apesar de todos os problemas na minha vida, não me coloco para baixo, pois, quando o idoso, ou qualquer pessoa, perde sua auto-estima, já está na hora de partir dessa vida”, disse Edna.
Enquanto dona Edna se arruma, pois, faz questão de estar impecável para ser entrevistada, converso com o seu sobrinho, André Roberto, 28 anos, que mora no mesmo prédio e diz admirar a desenvoltura da tia, que não se incomoda nem um pouco com o olhar dos vizinhos que a acham “avançada” para a idade.
“Tia Edna chama atenção por que se veste com roupas justas, coloridas, às vezes uma por cima da outra.. ele ri, e continua, ela diz que quando morava no Rio de Janeiro era comum às senhoras da sua idade se vestirem dessa forma e ninguém achava estranho, mas aqui na Bahia, as pessoas pensam que ela é doida”, relata André.

De volta a sala, observo Edna, retornando para continuarmos a conversa, agora maquiada, sem óculos, e com roupas de academia que ela tanto gosta. Não aparenta ter 69 anos, seu corpo em forma, adquirido como ela mesma diz, com anos de academia e as caminhadas no Porto da Barra.
Aliás, a escolha pelo Porto, é atribuída por ela, em razão do grande número de garotos belos e malhados que freqüentam o local. Conta que, apesar de ter sido casada duas vezes com homens bem mais velhos, ela sempre gostou de rapazes mais jovens.
”Adoro garotos mais novos e malhados, mas eles só querem mulher de dinheiro, e eu não tenho, e mesmo que tivesse não traria nenhum deles para ficar na minha casa”, conta ela.
Edna não tem vergonha em falar sobre sexo abertamente, diz que está a alguns anos sem ter relações, pois não quer pegar qualquer um. A reação do sobrinho André, agora sem graça com os comentários da tia sobre sexo, mostra que ainda há um grande tabu quanto à sexualidade do idoso.
Pois, nas sociedades antigas, a vida sexual tinha como prioridade à procriação, hoje, na era moderna, a satisfação é colocada em primeiro lugar por pessoas de todas as idades. Mas, a abordagem dada à sexualidade do idoso, ainda é carregada de preconceitos e receios, muitos às vezes, por parte do próprio idoso, que não se sente à vontade em falar do assunto com naturalidade, pois existe uma supervalorização da juventude no meio social, que não permite enxergar o idoso como um ser ativo sexualmente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Terceira Idade começa a partir dos 65 anos de idade. Porém, a perda do apetite sexual do homem começa a declinar em torno dos 40 anos. A partir dessa fase os homens perdem 1% ao ano do nível de testosterona no organismo. Sinais do problema incluem redução do desejo sexual. Diferente das mulheres, os homens não param de fabricar o seu hormônio - a testosterona. Já a mulher deixa de fabricar o estrogênio, hormônio feminino, com a chegada da menopausa, provocando mudanças também no desejo sexual.
Edna mostra que essas mudanças ocorridas na Terceira Idade não a deixaram sem vontade de viver, ou fizeram com que ela achasse que deveria esconder seus desejos.
Despedir-me daquela senhora sabendo que ela sempre será uma jovem senhora.

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